Na terça-feira, dia 22, começa no CCBB a IX Mostra Os Melhores Filmes do Ano, com os dez títulos mais votados pelos integrantes da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ). Lançados em 2010, nem todos tiveram longa temporada no circuito comercial, mesmo recebendo boas críticas e até prêmios — e esta pode ser a última chance de serem apreciados em película, como explica o curador do evento, Mario Abbade: “Por contrato, as cópias devem ser destruídas depois de certo tempo. Então, a mostra, que virou icônica, é uma oportunidade única para o público ver esses filmes no material e no espaço para o qual eles foram concebidos.”
Na primeira exibição dos dez filmes, as sessões são duplas e seguidas de debate com críticos e convidados especiais, entre os quais o cineasta José Padilha, a atriz Ingrid Guimarães e o psicanalista Jurandir Freire Costa (*veja a programação completa e mais informações abaixo). Diz Mario: “Os debates são a cereja do bolo. E cinema é debate e reflexão.”
Afinidade que leva ao diálogo
Os pares de filmes foram reunidos de forma a proporcionar um diálogo entre eles. “Há sempre alguma afinidade na escolha”, diz Carlos Alberto Mattos, participante já do primeiro dia, que tem talvez os títulos mais fortes da seleção: “A fita branca” e “Vincere”, ambos com visões originais sobre o ovo e o apogeu da serpente conhecida como nazismo e fascismo. A crueza do tema, porém, não afeta o entusiasmo do crítico: “A mostra já aconteceu em outros locais e agora volta ao CCBB, um ponto ótimo, que atrai cinéfilos de todos os tipos e lugares. Isso torna o debate mais animado e dá diversidade às perguntas.”
A crítica Maria Silvia Camargo estará presente à exibição de dois títulos mais leves: “Tudo pode dar certo” e “Um homem sério”: “Ambos falam das ironias da vida e do pouco controle que temos sobre ela. Woody Allen e os Irmãos Coen gostam de contar histórias de homens e mulheres fracassados — ou seja, 99% da humanidade. Seus protagonistas, Boris e Larry, lutam contra o destino”, diz ela. “Mas, desta vez, o alter ego de Woody Allen é mais ácido e agressivo, enquanto o personagem dos Coen se parece com os primeiros protagonistas de Allen: o sujeito vítima das circunstâncias, miserável diante dos desígnios da tragédia.”
Outros gêneros, outras semelhanças
Filmes de ação podem ser violentos ou mostrar o nascimento de super-heróis inusitados, como em “Tropa de elite 2” e “Kick-ass — Quebrando tudo”. Obsessão e investigação podem ter faces muito diferentes, como em “Mother — A busca pela verdade” e “Ilha do medo”. E a investigação, quando unida à literatura, pode gerar “O escritor fantasma” ou “O segredo dos seus olhos”.
Descobrir e discutir o que aproxima esses filmes um do outro com especialistas em cinema e outras áreas afins aos temas que eles apresentam é garantia de puro deleite para quem ama a sétima arte. A localização, no Centro da cidade, e os preços bem inferiores aos habituais tornam o programa ainda mais atraente. De quebra, há ainda a distribuição do catálogo da mostra, que costuma virar item de colecionador. Afinal, são 1.500 exemplares, mas o público que frequenta esta homenagem anual ao que o cinema tem de melhor a oferecer costuma ser muito mais numeroso. Bom sinal.